Quando a prática sexual passa a ser um problema para os homens

Frases como “Tenho dificuldade em manter uma relação sexual satisfatória”, “Não consigo satisfazer meu parceiro (a) sexual” ou “Ejaculo antes do momento que me programo, porque estou bastante excitado” são frequentes de serem emitidas por pessoas com disfunção sexual. Geralmente as mulheres relatam mais problemas desse tipo do que os homens, quanto a isso dois pontos significativos devem ser considerados: a) as mulheres praticam sexo com muito mais envolvimento emocional do que os homens e b) comparado aos homens, elas têm mais abertura para falar sobre questões como estas. Mas isso não significa dizer que homens sofrem menos com este tipo de problemática, na verdade a disfunção sexual ocorre com ambos os sexos e independe de classe social, distinção de cor, etc.

Muito se houve falar sobre problemas que envolvem questões sexuais em ambientes, seja clínico ou mesmo nas rodas de conversa entre as pessoas. Historicamente falar sobre sexualidade envolvia todo um contexto de rigidez e inflexibilidade para este assunto, visto que as culturas evoluíram de modo que alguns assuntos foram excluídos dos espaços educativos, incluindo o familiar, notoriamente sendo reconhecido como assuntos proibidos de cogitação. Diversas são as teorias sobre a origem dessa caracterização destes assuntos, e muitas relatam o peso de culturas religiosas como impositoras e determinadoras do que deveria ou não ser discutido entre os seus. Michel Foucault já falava dessa repressão sexual existente na humanidade em sua obra “história da sexualidade”, onde ele abarca muitas outras questões sobre sexualidade; mas neste texto não me aprofundarei nos conceitos.  Sociogeneticamente falando, este comportamento teve sua importância para a evolução da sociedade, uma vez que evitava muitos aversivos que estavam relacionados a negligência quanto a prática sexual, bem como estímulos reforçadores como  a organização social, segurança, entre outros.

Dentre os assuntos mais comuns entre os homens sobre disfunção sexual é a ejaculação precoce. Segundo Drº Jorge Gioscia (2009), professor e membro da sociedade brasileira de medicina sexual afirma que a ejaculação precoce tem sido considerada como afecção de natureza psicoemocional embora vários autores já pressupunham a possibilidade de um componente de caráter orgânico da gênese da afecção, baseados no pressuposto da ocorrência de uma situação de hiper-excitabilidade para os impulsos provenientes da área genital. Com isso, é possível afirmar que questões que envolvem o psicológico tem sido responsável pela maioria dos problemas de disfunção. Qual seria então esses fatores psicológicos? O principal deles tem sido, segundo pesquisas, a ansiedade como um estado orgânico em que o organismo emite padrões de resposta frente ao contexto aversivo em que está inserido. Entenda-se que este contexto envolve estímulos que representam perigo para o sujeito, uma vez condicionado.  Isso ocorre normalmente nos primeiros contatos sexuais da pessoa (conhecido como primários). Segundo o conceito de Godipodinoff (1989) e Williams (1984) os ejaculadores precoces primários são indivíduos que apresentam diminuições da latência ejaculatória de forma recorrente e persistente, desde o início de suas vidas sexuais, em quaisquer circunstâncias.

Vejamos o exemplo, João iniciou sua prática sexual muito tardiamente pois sempre viveu uma educação repressora e sempre acreditou que o ato sexual era algo impuro, sujo e que traria bastante consequências para si; então nas suas primeiras relações evitava o relaxamento, se satisfazendo com pouco contato sexual e pelo nível de excitabilidade somado a tensão de estar praticando algo “aversivo”, seu organismo respondia com ejaculação de forma precocemente. Depois dessas primeiras experiências, o mesmo passou a usar de um curto espaço de tempo que tinha no trabalho para algumas vezes praticar sexo no banheiro. Como o tempo era curto e a qualquer momento poderia chegar alguém e interromper, ele naturalmente passou a emitir respostas de ejaculação em pouco tempo sempre em condições de extrema ansiedade. Com o tempo, João não mais consegue ‘prender’ sua ejaculação nas práticas sexuais por não conseguir esse relaxamento necessário para o organismo vivenciar o momento.

Geralmente quando isso passa a ser frequente, nota-se que os homens passam a autoerotizar-se (masturbar-se ) com frequência visto que suas práticas sexuais com as pessoas estavam lhe decepcionando em vista da insatisfação e da vergonha diante das pessoas em vivenciar este problema de disfunção. Ressalta-se que a disfunção é algo não está funcionando. Não estamos falando de “doença”, mas formas do corpo funcionar de maneira errada: ansiedade e estado depressivo são dois grandes fatores associados a disfunção.

Embora, fisiologicamente os homens são preparados para ejacularem rápido, esse comportamento passa a ser um problema a partir do momento em que não proporciona uma completa satisfação com a prática sexual de ambas as partes, bem como quando o homem tem dificuldade em prender sua ejaculação durante o ato. Em consultório psicológico trabalhamos com técnicas de relaxamento, modelagem de novos comportamentos, dessensibilização sistemática, entre outras que serão utilizadas conforme cada caso, considerando a história de reforçamento em que o sujeito passou e análises funcionais do comportamento problema em si.

Diego Marcos vieira da Silva

Psicólogo comportamental (CRP15/4764), formado pela Universidade Federal de Alagoas, com formações em psicopatologia em análise do comportamento e técnicas de memória e oratória. Com capacitação para avaliação psicológica e experiência em casos de transtornos psicológicos tanto na clínica quanto em instituições de saúde mental

REFERÊNCIAS:

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber, tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro, edições Graal, 1988. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2940534/mod_resource/content/1/Hist%C3%B3ria-da-Sexualidade-1-A-Vontade-de-Saber.pdf> Acesso em 12 de agosto de 2017.

GIOSCIA, J.F. Existe tratamento para a ejaculação precoce? 2009. Disponível em: < http://drjorgemedicinasexual.blogspot.com.br/2009/06/existe-tratamento-para-ejaculacao.html> acesso em 12 de agosto de 2017.

SILVA, D. R. S. da et al. Transtorno obsessivo–compulsivo (TOC): características, classificação, sintomas e tratamento. ConScientiae Saúde, São Paulo, v.6, v.2, p.351-359, 2007. Disponível em: < http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340133701cnsv6n2_3q32.pdf > acesso em 5 de julho de 2015.

Skinner, B.F. (2003). Ciência e comportamento humano. Tradução organizada por J.C.Todorov & Azzi 11ª edição. São Paulo: Martins Fontes Editora. (trabalho original publicado em 1953).

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