Torres eólicas adoecem moradores e expulsam famílias no Nordeste


“Parece um avião, só que nunca pousa.” A frase do agricultor Leonardo de Oliveira Morais, morador da zona rural de Venturosa, no Agreste de Pernambuco, resume o drama vivido por famílias que residem próximas a torres de energia eólica. Leonardo vive a apenas 180 metros de um aerogerador instalado próximo à sua propriedade e relata impactos constantes na saúde e na qualidade de vida.

Incentivados por políticas federais de transição energética e pela expansão das fontes renováveis, os parques eólicos se multiplicaram pelo Nordeste nos últimos anos. No entanto, junto com os investimentos e a promessa de energia limpa, surgiram também denúncias de adoecimento, desvalorização de imóveis, barulho excessivo e abandono forçado de comunidades rurais.

Moradores relatam sintomas como insônia, dores de cabeça, tonturas, ansiedade, estresse e dificuldades de concentração, associados ao ruído contínuo e às vibrações provocadas pelas torres, principalmente durante a noite. Em algumas localidades, famílias afirmam ter deixado suas casas por não suportarem a convivência com os equipamentos.

Empresas do setor eólico afirmam que os empreendimentos mais recentes já seguem protocolos técnicos, incluindo distância mínima entre as torres e as residências, além de estudos de impacto ambiental exigidos por lei. O setor defende que a energia eólica é fundamental para reduzir emissões de carbono e garantir segurança energética ao país.

Por outro lado, órgãos ambientais, o Ministério Público e o governo de Pernambuco discutem medidas para avaliar, mitigar e reparar os impactos sociais e ambientais causados pelos parques já instalados. Entre as possibilidades estão revisões de licenças, criação de zonas de amortecimento, monitoramento de ruídos e diálogo com as comunidades afetadas.

Enquanto isso, moradores seguem cobrando indenizações, reassentamento digno e mudanças nas regras de instalaçãodos aerogeradores, alegando que pagam um preço alto por um modelo de desenvolvimento que não levou em conta quem vive no território.

“Não somos contra a energia limpa. Somos contra adoecer dentro da nossa própria casa”, resume Leonardo.

A discussão reacende o debate sobre como conciliar sustentabilidade ambiental, justiça social e direitos humanos em um dos principais polos de energia renovável do país.

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