Desdobramentos do caso Gabriel Lincoln: contradições no inquérito ainda geram questionamentos; advogado da família também contesta a versão oficial

O advogado da família, Gilmar Menino

 

Por Luciano Cardeal – Jornalista

A essa altura, já está amplamente comprovado que Gabriel Lincoln não estava armado quando foi atingido pelas costas durante uma abordagem policial em Palmeira dos Índios. Os próprios policiais envolvidos alegaram inicialmente que reagiram a um suposto disparo feito pela vítima, justificando a ação como legítima defesa. No entanto, essa narrativa foi desmentida por perícias técnicas e depoimentos colhidos desde a instauração do inquérito, ainda no dia da morte do adolescente.

A reconstituição dos fatos, realizada em 15 de julho, reforçou a inconsistência das versões apresentadas pelos agentes. A simulação apontou que não houve qualquer reação por parte de Gabriel e que ele sequer tinha uma arma consigo — fato confirmado posteriormente pela Polícia Científica.

Diante de tais evidências, causa estranheza o laudo final indicar que o disparo foi acidental, configurando apenas homicídio culposo (sem intenção de matar). Essa conclusão levanta dúvidas, principalmente considerando que os três policiais prestaram depoimentos incompatíveis com os fatos apurados e tentaram alterar a cena do crime ao apresentar uma arma falsamente atribuída à vítima.

O advogado da família do adolescente, Gilmar Menino, reafirma essas inconsistências apontadas pela investigação e declara publicamente discordar da tipificação de homicídio culposo. Para ele, há elementos claros que indicam homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar.

A conduta dos envolvidos, somada aos elementos técnicos e visuais coletados, pode sim sugerir intencionalidade — uma linha de raciocínio que não pode ser ignorada, sobretudo quando se trata de garantir justiça plena em casos de letalidade policial.

Ainda haverá outros capítulos neste caso, especialmente com a possibilidade de um futuro julgamento dos policiais. Por isso, os laudos e os elementos apurados até aqui precisam ser revisitados com um olhar mais sensível e comprometido com a verdade — um olhar que leve em consideração não apenas os aspectos técnicos, mas também a dor da família e a memória de Gabriel.

A imprensa séria, incluindo veículos como o Estadão Alagoas, tem acompanhado o caso de perto desde o início, reproduzindo os fatos com responsabilidade e dando voz à luta por justiça. O desfecho do inquérito é, sem dúvida, um passo importante. Mas diante das lacunas e contradições ainda presentes, permanece a pergunta: foi mesmo um disparo acidental — ou a verdade ainda precisa ser encarada com mais coragem e humanidade?

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