Caso Gabriel Lincoln: após 111 dias regadas de dor, certezas e incertezas, justiça começa a ser feita
Por Luciano Cardeal – Jornalista
Desde o primeiro momento, a equipe da TV Estadão Alagoas acompanhou de perto o caso do adolescente Gabriel Lincoln, morto durante uma abordagem policial na noite de 3 de maio de 2025, em Palmeira dos Índios, AL. Com responsabilidade e sensibilidade, levantamos questionamentos que hoje se confirmam: a vítima estava desarmada, e a versão apresentada por agentes envolvidos na ação não condizia com os fatos.
Sempre com sede de justiça e movidos pela dor compartilhada com os familiares de Gabriel, mantivemos nossa cobertura com respeito, escuta e compromisso com a verdade. Desde o início, acreditamos na inocência de um jovem que, segundo testemunhos, não demonstrou reação agressiva alguma — apenas o medo compreensível de um menino diante da conduta desproporcional da abordagem policial.
Após mais de três meses de investigação, o inquérito conduzido pelas Delegacias de Homicídios da 5ª Região e do Interior, com suporte técnico da Polícia Científica, concluiu que Gabriel foi vítima de um disparo acidental, classificado como homicídio culposo — quando não há intenção de matar. O laudo também confirmou: o adolescente não portava arma no momento da ação.
O mais grave, porém, veio à tona durante as apurações. Três policiais militares envolvidos no caso tentaram manipular a cena do crime, apresentando um revólver que teria sido falsamente atribuído a Gabriel, na tentativa de justificar o ocorrido como legítima defesa. Um ato que, segundo a investigação, configura fraude processual com agravante da Lei de Abuso de Autoridade.
A família do garoto, desde o início, reiterou que Gabriel jamais teve contato com armas de fogo. Além da rígida orientação dos pais, o adolescente tinha, segundo eles, repulsa por armamentos — uma afirmação sustentada em entrevistas e relatos consistentes.
Hoje, 22 de agosto, após 111 dias de angústia, essa etapa do processo chega a um marco importante. A justiça, mesmo que tardia, começa a ser feita. Para nós, do Estadão Alagoas, este não é apenas o desfecho de uma apuração — é o reconhecimento de uma luta por verdade, travada com ética jornalística, empatia e responsabilidade social.
Seguiremos atentos. Pela memória de Gabriel. Pela dor da sua família. E pelo compromisso com a justiça e com a população alagoana.