Suicídio entre policiais cresce em Alagoas, na contramão da tendência nacional


Enquanto o Brasil registra uma leve queda nos índices de suicídio entre profissionais da segurança pública, Alagoas vive um cenário preocupante. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, divulgado nesta quinta-feira (24), o estado saltou de um caso em 2023 para três em 2024, todos entre policiais militares da ativa. O crescimento de 200% coloca Alagoas entre os estados com maior alta proporcional do país, ao lado do Distrito Federal (400%) e do Ceará (100%).

Embora o número absoluto pareça pequeno, o aumento chama atenção justamente por destoar da tendência de queda nacional. No Brasil, o número de suicídios entre agentes de segurança caiu de 137 para 126, uma redução de 8% no mesmo período. Em Alagoas, o dado expõe fragilidades no cuidado com a saúde mental dos profissionais que estão na linha de frente da segurança pública.

Silêncio institucional e rotina de estresse

O crescimento em Alagoas ocorre em meio a uma rotina marcada por sobrecarga, pressão psicológica, hierarquia rígida e, muitas vezes, ausência de apoio emocional dentro das corporações. Especialistas alertam que o suicídio entre policiais raramente é um evento isolado. Ele é, quase sempre, o desfecho trágico de um processo contínuo de adoecimento mental, agravado por falta de escuta, estigmatização do sofrimento psicológico e medo de retaliações ou punições.

O silêncio institucional ainda é uma barreira significativa. Em vez de mecanismos estruturados de acolhimento e prevenção, prevalece a ideia de que demonstrar fragilidade é incompatível com a farda. Na prática, isso empurra muitos policiais para o isolamento, mesmo diante de crises evidentes.

Hora de mudar o foco

Diante dos números, o alerta é claro: não basta reforçar o efetivo ou investir em armamentos. É preciso olhar para dentro das corporações. Criar protocolos de prevenção ao suicídio, garantir acesso facilitado a atendimento psicológico e psiquiátrico, e — principalmente — romper com a cultura do medo e da culpabilização de quem sofre.

Alagoas não pode aceitar como normal a perda de vidas de quem jurou proteger a sociedade.

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