Júlio Cézar: O político que odeia ser contrariado e vive do caos

Palmeira dos Índios sempre foi uma cidade conservadora, arcaica em suas escolhas e resistente às mudanças. Seu eleitorado, por mais contraditório que pareça, nunca aceitou de verdade que alguém sem raízes políticas chegasse ao poder. Em terras onde a pobreza impera, ainda se acredita que o pobre não pode — ou não deve — ser político. Pior: o pobre, muitas vezes, não gosta de ver outro pobre ascender.

Foi nesse cenário que Júlio Cézar quebrou barreiras. Policial e jornalista de origem humilde, ele ousou sonhar com a cadeira mais cobiçada do município. E conseguiu. Amparado por amigos fiéis nos tempos das vacas magras, e em aliança com o médico Márcio Henrique — nome forte de uma tradicional família política —, chegou à Prefeitura derrubando oligarquias, rompendo estruturas e, por um tempo, encantando o povo.

Oito anos depois, a imagem construída com tanto esforço começa a ruir.

Júlio não soube retribuir com a mesma lealdade o apoio que recebeu. Nem aos amigos, nem aos políticos — leia-se Teo Vilela e Ronaldo Lessa —, tampouco ao povo que o elegeu com esperança. Sua marca tem sido outra: sorrisos fáceis, promessas vazias, tapinhas nas costas e perseguições silenciosas. Alimenta-se do caos. E o caos, por sua vez, começa a lhe engolir.

Como pode um homem que veio de baixo, que sentiu na pele a exclusão, repetir o ciclo da opressão? Como pode alguém que foi rejeitado pelas elites agora agir como elas — ou pior?

A resposta talvez esteja na vaidade. Júlio se vê como o único capaz. O espelho de seu gabinete só reflete a sua própria imagem. Quando tenta lançar alguém, como fez com sua tia, Luísa Júlia, tropeça no erro de pensar que o carisma e a esperteza são herdáveis. Não são. E talvez por isso, o arrependimento bata à porta.

Os sinais da queda são claros. O caso da Águas do Sertão é um deles: uma crise que sangra a população e escancara a ausência de comando. Enquanto isso, os “desconhecidos íntimos”, que o cercam, baixam a cabeça e repetem o que ele quer ouvir — nunca o que precisa. E assim, o gestor se isola em sua própria bolha, cego pelo poder, surdo para as críticas, e ensandecido pela iminente perda de tudo o que conquistou.

Júlio Cézar, um dia símbolo de mudança, caminha para se tornar mais um nome apagado pela própria sede de controle. Assim como James Ribeiro, também prefeito e também vítima do próprio ego, ele vai vendo sua obra ser esquecida. Porque o político que vive do caos, inevitavelmente, se afoga nele.

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