Como o cérebro aprende?

Olá, tudo bem? No texto de hoje pretendo falar daquilo que por diversas vezes escrevi para vocês … a influência poderosa que o ambiente tem sobre nossos comportamentos; e nesse sentido, como o papel do ambiente impacta diretamente sobre a maturação de nosso cérebro promovendo seu desenvolvimento por meio de aprendizagens. Quando falamos de aprendizagem nos referimos a um processo que é único e individualizado, ou seja, para cada pessoa há uma metodologia que melhor facilite sua aprendizagem. Com as crianças neuroatípicas o processo não é diferente, uma vez que os mecanismos utilizados para garantir esse processo são os mesmos: contingências.

Para quem está ligado nos textos, o termo não é estranho, mas para os novos leitores faço questão de esclarecer. Quando falamos de contingência, nos referimos a um conjunto de estimulações que favorecem a emissão de determinado comportamento, por exemplo, uma criança que faz birra no supermercado está em contingencias favoráveis para a emissão da birra, uma vez que lá ela sabe que sua mãe dará aquilo que ela deseja, pois esta mãe teme “passar vergonha em público”. Um outro exemplo é quando seu filho fica mais agitado quando está com a avó do que com os pais. Isso acontece porque na presença da avó, é sinalizado uma contingência favorável a agitação, diferente dos pais que ficam o tempo todo impondo regras à criança.

Mas não é sobre isso que quero falar, mas sim, em como favorecemos a aprendizagem das crianças, principalmente aquelas com um desenvolvimento cerebral atípico. Podemos iniciar falando sobre o aprender?

O termo aprendizado significa o ato do aprendiz aprender, e vem de uma língua latina entendia como “apprenhendere”, que significa apanhar algo, no sentido de adquirir conhecimento. Com isso, a própria palavra aprendizado, em suas origens, sugere que o indivíduo se dirige ativamente ao aprender, e, as pessoas estão predestinadas a isto em um processo de interação com o contexto e por mediação social, a construir uma visão de mundo e intervir nele. Pois desde nosso nascimento interagimos com o mundo a nossa volta e atribuímos significados aos estímulos que se relacionam com a gente o tempo todo, seja no lar familiar por meio de nossos pais e pessoas mais próximas, seja no meio social, quando começamos a influenciar nas relações e na sociedade de uma forma mais direta. Aprendemos durante todo o momento. O simples ato de sugar o peito materno para se alimentar pode ser considerando um ato de aprendizagem.

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Skinner (1953), psicólogo americano afirma que o processo de aprendizagem se dá de duas formas diferentes, por condicionamento clássico ou operante. No condicionamento clássico a aprendizagem acontece por meio de associações que o sujeito faz entre um estímulo e uma resposta do organismo, por exemplo a presença da mãe funciona como estímulo para o comportamento de buscar o peito. No condicionamento operante é necessário que o sujeito se comporte para ter uma consequência no ambiente, por exemplo quando estamos diante uma porta, aprendemos que girar a fechadura funciona como estímulo para adentrar no lar. Este teórico da psicologia diz ainda que a maioria de nossas aprendizagens se dá por condicionamento operante.

Outros teóricos darão outra conotação a aprendizagem. Para Vygotsky (1991) apud BOCK, et. al. 2008) a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas, a relação do indivíduo como o mundo está sempre mediada pelo outro. Não há como tecer relações com o campo de aprendizagem se não tivermos o outro como mediador para nos fornecer significados sobre os estímulos do mundo a nossa volta. Nos exemplos citados anteriormente, por exemplo os adultos foram necessários para que a criança adquirisse os comportamentos listados. Conforme o próprio autor, o desenvolvimento da aprendizagem requer, antes de tudo uma interação com o meio, uma vez que não ocorre por meio de um conhecimento pronto; “[…] mas como um processo em que estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem” (VYGOTSKY 1991, apud BOCK, et. al. 2008). Este conceito se aproxima de ´perspectivas de outros autores como o citado anteriormente que também entende o desenvolvimento humano e as relações com o meio através da interação social com o ambiente não sendo com isso o indivíduo um poço de sabedoria que em contato com o meio praticará a aprendizagem, mas uma teia de relações entre significados e sentidos que proporcionará a aprendizagem.

Entendemos com isso também que a motivação para aprender deve partir de um ambiente que possibilite isso desde a infância e coisas como elogios e gratificações devem fazer parte do processo, pois a criança sente-se capaz de aprender, fator crucial no processo. Com isso, desde pequena, a criança deve ser levada a aderir um repertório de aprendizagem que favoreça seu desenvolvimento e isso pode ser feito nas atividades cotidianas no ambiente familiar como colocar o lixo fora de casa, arrumar o quarto, limpar o aquário, limpar a área de casa, lavar a sandália, colocar suco no copo, comer sozinho, buscar algum objeto, entre outras infinidades de possibilidades. Privar a criança desses afazeres é favorecer uma criança com dificuldades em suas relações e em sua personalidade. Acompanhado desses afazeres, é imprescindível que a criança seja elogiada, valorizada e parabenizada, pois isso fortalece sua auto-estima e favorece seu crescimento saudável. A criança que não é valorizada em suas ações possivelmente sente-se insegura, desmotivada e com baixa auto-estima, pois não se sente em um ambiente motivador para mostrar suas habilidades aprendidas. A aprovação dos pais possibilita que a criança sinta-se segura, motivada e determinada pois conhece a si mesmo e sabe que tem capacidade de aprender e mostrar o que aprendeu. A tarefa de casa, por exemplo, é uma oportunidade excelente para que a família estabeleça laços com o que é inserido na escola. Se essa atividade fosse devidamente valorizada e entendida pelas famílias não seria necessário que houvesse uma regulamentação implementada pela escola, oportunamente não cabe a família a obrigação de fazer o dever de casa mas sim estimular o filho a responsabilidade para tal. (SOUZA & ALMEIDA, 2015).

Partindo desse pressuposto, destaca-se que qualquer metodologia utilizada para que a criança emita um comportamento que antes não existia em seu repertório comportamental, pode-se considerar que ela aprendeu o comportamento; a esse processo considera-se que o novo comportamento foi “instalado” e as repetidas vezes em que ele aparece, chama-se de comportamento “mantido”. Entender as variáveis do processo de aprendizagem se faz como bastante oportuno, principalmente quando a criança está inserida no contexto escolar. Com isso, a depender de como esta educação está sendo instalada e mantida nos ambientes primários da criança, como o familiar, a criança tenderá a formar sua personalidade baseado nessa educação. Muitas vezes as expressões emocionais da criança são emitidas no ambiente escolar e os professores percebem com mais clareza, principalmente na fala e comportamento da criança, onde muitas vezes, revelam agressão, carência de amor, de limites, entre outros. Esses fatores revelam a relação contínua que deve haver entre família e escola no processo de aprendizagem do aluno. A responsabilidade de educar parte de dentro e de fora da escola, uma vez que entende-se haver uma co-participação nesse processo educativo e não uma atribuição apenas à uma instituição a responsabilidade na formação educativa e de identidade da criança.

O rendimento escolar se dará bem feito se a criança estiver em um ambiente familiar que lhe possibilite ampliar seu repertorio comportamental tornando-o capaz e motivado para aprender. Trabalhar com elogios nas horas certas é a melhor maneira de promover este ambiente, porque potencializa o aprendizado da criança, acreditando que ela é capaz e que terá sucesso. Trabalhar com contingências, nesse sentido é organizar um ambiente que possibilite estimulações adequadas. Se a criança está exposta sob determinadas estimulações e ainda não desenvolveu seu potencial de aprendizagem, significa que este ambiente está inadequado. Modificar estrutura, reorganizar materiais, evitar estímulos distraidores, trabalhar com recompensas, etc. pode abrir um leque de possibilidades de repensar o fazer pedagógico, no sentido de “o que estou fazendo, faço da melhor forma de acordo com o potencial da criança?”.

Deixo essa reflexão.

Diego Marcos Vieira da Silva

Psicólogo comportamental (CRP15/4764), formado pela Universidade Federal de Alagoas, com formações em psicopatologia em análise do comportamento e técnicas de memória e oratória. Com capacitação para avaliação psicológica e experiência em casos de transtornos psicológicos tanto na clínica quanto em instituições de saúde mental. 

 

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