O que as eleições legislativas de 2018 revelam sobre os EUA pós-Trump
As eleições legislativas de 2018 nos Estados Unidos resultaram em grandes novidades. Os Democratas agora controlam a maioria na Câmara dos Representantes, enquanto os Republicanos mantiveram a maior parte dos assentos no Senado. Mulheres candidatas conquistaram números recordes de vitórias, minorias se mobilizaram e o comparecimento às urnas será um dos mais altos já vistos.
Só que mais do que mudanças no cenário político, o pleito trouxe à tona o retrato da sociedade americana nos dias atuais. E ela está dividida.
A constatação é de Melissa Michelson, cientista política americana da Universidade de Yale e professora de Ciências Políticas em Menlo College, na Califórnia. Especialista em política e eleições dos Estados Unidos, com foco na pesquisa dos votos das minorias, Melissa concedeu uma entrevista por escrito a EXAME no dia seguinte das votações e repercutiu os reflexos que a eleição de Donald Trump em 2016 trouxeram para o processo eleitoral em 2018.
Se as previsões estiverem corretas, as eleições legislativas de 2018 vão atingir um número recorde de comparecimento às urnas. O que explica esse fenômeno?
Melissa Michelson – Acredito que as eleições presidenciais de 2016 e os primeiros dois anos da presidência de Trump foram lições cívicas para o público americano. Muitos não participaram daquela eleição e então viram como o resultado impactou em suas vidas, seu país e o mundo. Acho que isso mostrou aos americanos porque as eleições importam.
As eleições legislativas são sempre um referendo sobre o presidente em exercício, e o presidente Trump é muito impopular. Cidadãos quiserem ir às urnas para mostrar o seu descontentamento de uma forma que impactasse o restante do seu mandato na Casa Branca.
EXAME – O que os resultados revelam sobre a sociedade Americana pós-eleição de Trump?
Melissa Michelson – Os Estados Unidos estão divididos. Vimos vitórias entre democratas progressistas como Alexandria Ocasio-Cortez no Bronx (Nova York) e Jack Rosen em Nevada. Ao mesmo tempo, Ted Cruz foi reeleito no Texas e Steve King conseguiu garantir seu assento por Iowa. Temos no país áreas profundamente azuis, outras profundamente vermelhas e nada no meio. No geral, o Partido Democrata foi muito bem, mas a “onda azul” não foi exatamente um tsunami.