Entre muros e palanques: o jogo político por trás da demarcação em Palmeira dos Índios

O silêncio de Júlio Cézar durou até onde a conveniência política permitiu. O ex-prefeito de Palmeira dos Índios e atual secretário estadual de Relações Federativas e Internacionais, enfim, “saiu de cima do muro” para comentar a demarcação das terras Xukuru-Kariri, mas o fez mais como político calculista do que como alguém verdadeiramente comprometido com o diálogo.

No vídeo divulgado nas redes sociais, Júlio adota um tom de indignação contra a Funai, cobrando diálogo e criticando a presença de policiais nas ações de vistoria.

O discurso parece moderado, mas na prática soa como um contra-ataque político, direcionado a outro ex-prefeito, James Ribeiro. Este, por sua vez, tem usado o tema como palanque, principalmente pelo fato de sua residência estar localizada dentro da área em processo de demarcação.

Entre os dois, o que se vê é menos preocupação com os povos indígenas ou com os agricultores afetados e mais uma disputa por protagonismo. James tenta se descolar da inércia que marcou sua gestão, enquanto Júlio busca voltar ao centro das atenções, ambos explorando um tema sensível que há décadas clama por solução concreta.

A verdade é que a demarcação do território Xukuru-Kariri não é novidade. Desde 2008, o processo se arrasta em meio a pareceres, portarias e decisões judiciais, sem que qualquer gestor municipal tenha realmente enfrentado o problema com coragem e responsabilidade. Faltou política pública, sobrou discurso.

Agora, com as redes sociais em chamas e o clima de tensão crescendo, relatos de abordagens da Funai, posseiros amedrontados e até tiros próximos a uma escola indígena, as lideranças locais ressurgem, cada uma empunhando sua bandeira de conveniência. Júlio posa de mediador, James de vítima. No meio disso tudo, estão os pequenos agricultores e as famílias indígenas, transformados em peças de um jogo político que já dura gerações.

No meio dessa crise, a prefeita Luísa Julia, tia de Júlio Cézar, anunciou a criação da “Secretaria dos Povos Originários”. Mas, longe de acalmar os ânimos, a novidade só aumentou a desconfiança. Sem estrutura, sem orçamento e sem propósito claro, a secretaria nasceu mais como resposta política do que como instrumento de solução.

Enquanto isso, os problemas reais, segurança, produção rural, moradia e convivência, continuam sem resposta. Em vez de pacificar, as autoridades transformaram a questão indígena em um campo de guerra institucional, onde cada gesto soa mais como jogada eleitoral do que como compromisso com a verdade e com as pessoas.

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