“A música brasileira está doente”, afirma Dori Caymmi em crítica ao rumo da cultura nacional

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Aos 82 anos, o cantor e compositor lamenta a perda de qualidade e a superficialidade das produções atuais

O músico Dori Caymmi, um dos grandes nomes da MPB, fez uma dura crítica à cena musical contemporânea ao afirmar que a “música brasileira está doente com tanto mau gosto”. A declaração foi dada em entrevista à Folha de S. Paulo, e reflete a insatisfação do artista com os rumos da cultura no país.

Aos 82 anos, Dori — filho de Dorival Caymmi e irmão de Nana e Danilo — vem reforçando seu desencanto com o cenário atual. Para ele, o Brasil atravessa não apenas uma crise política e social, mas também uma crise estética e cultural.

“Vivemos um tempo em que o barulho vale mais do que a melodia. O mau gosto tomou conta de tudo, e a música sofre com isso”, disse o artista, ao comentar a proliferação de estilos voltados apenas para o consumo rápido e a viralização nas redes sociais.

O compositor, conhecido por obras sofisticadas e arranjos refinados, lançou recentemente o álbum “Utopia”, onde reflete sobre o país e a própria arte. Segundo Dori, a nova geração de artistas parece estar mais preocupada em agradar algoritmos do que em emocionar pessoas.

“A pressa da internet fez a gente perder o encanto do som, da pausa, da poesia. Tudo virou produto”, afirmou.

Para o músico, a perda de referências e a falta de estudo musical contribuíram para o empobrecimento da produção artística. Ele diz ver poucos herdeiros da tradição da música popular brasileira — marcada por nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Edu Lobo — e teme que a superficialidade se torne regra.

Apesar das críticas, Dori não descarta o talento de novos nomes, mas defende que a música precisa recuperar o equilíbrio entre popularidade e qualidade.

“O Brasil sempre foi diverso. O problema é quando o mau gosto vira padrão e o bom gosto é tratado como exceção.”

Com a lucidez e franqueza que sempre marcaram sua trajetória, Dori Caymmi reforça a necessidade de um olhar mais sensível sobre o que se produz — e se consome — no país.

“A música é o espelho da alma de um povo. E, se a música está doente, é porque a alma também está.”

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