Por que Marco Rubio pode dificultar a aproximação entre Lula e Trump
A primeira conversa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, ocorrida nesta segunda-feira, 6, reacendeu as expectativas sobre uma possível reaproximação entre Brasil e Estados Unidos. O diálogo, realizado por videoconferência e descrito por ambos como “amistoso”, marcou o primeiro contato direto desde que Washington anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em resposta à condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
Apesar do tom cordial, o nome escolhido por Trump para conduzir as negociações bilaterais gerou preocupação em Brasília. O novo secretário de Estado americano, Marco Rubio, foi designado para tratar do tema com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo fontes do governo brasileiro, há desconforto com a escolha, já que Rubio é considerado parte da ala “ideológica” do governo Trump e tem histórico de críticas ao PT e à política externa brasileira.
Ainda assim, interlocutores do Planalto reconhecem que negociar com alguém próximo a Trump pode ser mais efetivo do que lidar com um diplomata sem acesso direto ao presidente.
Analistas classificam a indicação de Rubio como um “caminho mais difícil” para o Brasil. O brasilianista Brian Winter afirmou que o secretário é “um cético de longa data em relação a Lula” e deve endurecer as conversas sobre temas sensíveis como Venezuela e China. Aliados de Bolsonaro, por outro lado, comemoraram a escolha, interpretando-a como um sinal de resistência à aproximação entre Lula e o republicano.
Rubio, senador da Flórida e filho de imigrantes cubanos, é conhecido por seu discurso linha-dura. Ele tem histórico de pressão contra governos de esquerda na América Latina e foi um dos principais defensores das sanções impostas ao Brasil e da revogação de vistos de autoridades brasileiras durante o governo Dilma Rousseff.
Desde que assumiu o cargo de secretário de Estado, em novembro de 2024, o republicano reforçou sua postura conservadora e intervencionista. Após a condenação de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, Rubio classificou o processo como uma “caça às bruxas” e prometeu uma “resposta à altura” — declaração que provocou reação imediata do Itamaraty.