Câmara reage, e Prefeitura corre para maquiar censura no FIPI 2025
Após a repercussão negativa da decisão de centralizar a transmissão oficial do Festival de Inverno de Palmeira dos Índios (FIPI 2025), a Prefeitura divulgou nesta quinta-feira (31) uma nota em tom conciliador. O texto, publicado nos canais oficiais do município, tenta disfarçar o cerceamento da liberdade de imprensa sob o argumento de que a transmissão deste ano será “a mais democrática da história”.
Na prática, porém, o comunicado apenas reafirma a exclusividade da geração de conteúdo ao vivo, agora concentrada nas mãos de uma única empresa: a Digiphotos & Produções, contratada sem qualquer processo público de seleção. A produtora ficará responsável pela direção e geração de imagens da TV PDI (Prefeitura de Palmeira dos Índios), enquanto os demais veículos de imprensa — inclusive aqueles com tradição na cobertura do evento — deverão se contentar com o reaproveitamento do sinal oficial, já editado, padronizado e controlado por terceiros.
Controle total, liberdade limitada
A Prefeitura afirma que todos os veículos interessados poderão “redistribuir” o sinal oficial. No entanto, a liberação desse conteúdo não equivale à liberdade real de cobertura, muito menos à autonomia editorial. O modelo adotado impede que emissoras como a TV Estadão Alagoas — que há 13 anos acompanha os principais eventos da cidade e há três transmite ao vivo o FIPI com equipe própria — realizem uma cobertura independente, com identidade própria, ângulos exclusivos, entrevistas espontâneas e narração ao vivo.
A medida, vista por muitos como uma clara retaliação à imprensa livre, esvazia o papel das emissoras locais enquanto produtoras de conteúdo original e transforma veículos independentes em meras retransmissoras de um material padronizado pela gestão municipal.
Sem transparência, sem edital, sem critérios
Outro ponto que chama atenção é a falta de transparência na escolha da produtora responsável pela transmissão. Não há registro de licitação, edital público ou qualquer critério técnico divulgado que justifique a exclusão das demais empresas de comunicação da cidade. O histórico de atuação da TV Estadão Alagoas no evento sequer foi considerado — ignorando um legado de profissionalismo e credibilidade reconhecido pelo público e por autoridades locais.
Credenciamento sob vigilância
A nota também informa que jornalistas, fotógrafos e produtores poderão realizar cobertura presencial, mediante credenciamento junto à Secretaria de Comunicação da Prefeitura. No entanto, o processo impõe regras subjetivas e condiciona o trabalho da imprensa à “autorização prévia dos artistas” e a critérios internos da própria gestão, o que pode ser facilmente usado como instrumento de controle ou intimidação.
A cultura não pode ser monopólio do poder
A tentativa de concentrar o conteúdo do FIPI nas mãos do governo municipal não condiz com o espírito democrático que o evento representa. O Festival de Inverno é um patrimônio cultural do povo palmeirense, e sua cobertura não deve ser submetida a interesses políticos, econômicos ou eleitorais.
A pluralidade de vozes, olhares e narrativas é o que fortalece a cultura, a democracia e a cidadania. Limitar a atuação da imprensa livre, sob o pretexto de “organização”, é um passo perigoso rumo à censura institucional.