OLHO VIVO: Museu Xucurus é vítima de disputa política em Palmeira

Inaugurado em 1971, o Museu Xucurus, um dos mais importantes do Nordeste, funciona dentro da Igreja Nossa Senhora do Rosário em Palmeira dos Índios. Com seu vasto acervo, em pouco tempo tornou-se referência de patrimônio e memória o município e é visitado mensalmente por estudantes e pesquisadores, por exemplo, mas pouco valorizado pelo poder público ao longo dos seus quase 50 anos de fundação.

Desde a sua criação, recebeu críticas pelo fato de funcionar dentro de uma igreja católica, local considerado inadequado para abrigar as milhares de peças que compõem o acervo, como armas de Tenório Cavalcante, Robson Mendes e um arsenal de rifles, carabinas e espingardas. Também encontram-se armas indígenas e vestimentas da dança ritual do toré, que tem um visual bem impactante, além de tumbas de cerâmica com ossadas humanas dentro das chamadas igaçabas.

No entanto, a inércia da política em relação à valorização cultural arrasta-se até hoje e o museu continua no mesmo lugar.

Tratando do governo atual, o prefeito Julio Cezar enfim, após receber críticas pela não valorização da cultura local, sinalizou publicamente que pretende mudar a situação. No caso do Xucurus, o acervo será levado para uma nova, mas não definitiva sede.

Segundo informações apuradas pelo Estadão Alagoas, a Prefeitura teria alugado um imóvel conhecido como “Solar dos Leite”, ao pelo valor de R$ 3 mil mensais para, enfim, abrigar o acervo. O contrato teria validade de 24 meses, ou seja, dois anos.

No entanto, alguns representantes da sociedade de Palmeira dos Índios demonstram publicamente interesse pela não mudança do museu para o novo local, o que culminou numa ação judicial encabeçada pelo advogado Elias Henrique dos Santos Filho, que já tramita na Justiça alagoana.

Outros cidadãos, porém, continuam agindo às escondidas criando um embate que prejudica a cultura local. É justamente neste ponto que se questiona: qual o interesse de um cidadão residente na cidade de tentar impedir essa mudança, que só irá beneficiar um elo da vasta, mas desvalorizada cultura local?

Agindo na surdina, alguns desses cidadãos afirmam que o município não tem condições financeiras para manter o aluguel, porque o valor cobrado pelo proprietário seria elevado, causando prejuízos ao erário público, justamente pelo período de validade da locação do imóvel e o valor em questão está fora do orçamento municipal. Esse seria o “motivo” para a abertura do processo que visa o cancelamento do contrato.

Cabe lembrar que, mesmo não pagando aluguel à Diocese de Palmeira dos Índios, a Prefeitura é responsável pela manutenção do prédio desde a criação do museu e esses valores constam no orçamento municipal. Mudando para o novo prédio, esse tipo de despesa deixará de existir.

De acordo com informações apuradas pelo Estadão Alagoas, o interesse desse grupo de cidadãos, na verdade, é de causar barulho político na gestão e confundir a população. Mas, cabe destacar que integrantes do primeiro e segundo escalões do Governo Municipal também estão entre essas pessoas contrárias à mudança, o que vai de encontro direto às posturas ligadas aos cargos que ocupam.

Enquanto isso, as centenas de obras abrigadas no prédio da igreja continuam sofrendo com o descaso de décadas. Diversas peças estão em rápido processo de desgaste, também pela falta de manutenção no local que tem vidros quebrados e peças danificadas pela ação de vândalos que se fazem de visitantes.

A desembargadora do Tribunal de Justiça de Alagoas, Elizabeth Carvalho, é uma das defensoras da mudança. Residente em Palmeira dos Índios, ela entende que a mudança é necessária para o bem da cultura municipal. Causa estranheza para ela que pessoas, algumas de dentro do governo, sejam contrárias à iniciativa que tem, claramente, finalidade política.

A situação problemática do Museu Xucurus é tão antiga que uma máxima popular foi “criada” pelos moradores, a de que Palmeira dos Índios só irá voltar a progredir de novo quando a igreja deixar de abrigar o museu e voltar às suas atividades. Pelo visto, a sabedoria do povo está, de novo, certíssima.

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