Como potencializar o desenvolvimento e aprendizagem de crianças com TEA?

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Comumente profissionais que lidam com crianças com autismo tem se queixado da dificuldade em sua criança ter aquisição de aprendizagem, validando o discurso de que o problema está na criança que é “portadora” de um transtorno que incapacita seu processo de aprendizagem. Falar sobre desenvolvimento e aprendizagem é tão complexo quanto falar sobre o transtorno do espectro autista (TEA), por isso respostas tautológicas devem ser evitadas, uma vez que buscamos o viés científico como melhor forma para abordar o tema.

Nesse sentido, o campo do desenvolvimento humano abrange um complexo teórico e variáveis bastante interligadas a um processo que não depende apenas da maturação do organismo, mas de interações com o meio social em que o sujeito de desenvolve. Conforme LEPRE (2008) apud LOPES, 2016, p. 23 os fatores a seguir influenciam orgânica e cognitivamente o desenvolvimento humano; os quais são: 1) crescimento orgânico: desenvolvimento físico; 2) maturidade neurofisiológica: desenvolvimento das habilidades cognitivas que dependem de fatores biológicos, mas também dos estímulos recebidos do meio; 3) meio: aspecto ambiental que pode modificar o desenvolvimento do indivíduo. Este último, tem papel principal neste desenvolvimento, sabe por quê? Porque evoluímos de um cérebro que aprendeu a se adaptar as mudanças do meio e dessa forma foi ganhando novas áreas (neocórtex) e sua capacidade de plasticidade neural é comprovada cientificamente, potencializando-o dessa maneira para aquisição de novas habilidades a medida em que o sujeito está em um ambiente estimulante. Nesse sentido pessoas com desenvolvimento atípico (termo usado em análise do comportamento para se referir a crianças com atraso no desenvolvimento), embora com atraso em determinadas estruturas orgânicas não estão impossibilitadas do processo de aprendizagem, uma vez que desde nosso nascimento somos capazes de aprender algum comportamento novo, desde o comportamento de chorar para demonstrar que estamos com fome.

 “Os estudos acerca do desenvolvimento atípico em crianças e adolescentes têm sido uma preocupação constante da Análise do Comportamento. As pesquisas nesta abordagem da psicologia estão se voltando cada vez mais para populações como: crianças diagnosticadas como autistas e seu espectro ou outros distúrbios invasivos do comportamento, retardo mental, atraso de linguagem, etc.” (GODOI, 2006, p. 10)

Complementando ainda a citação acima, este desenvolvimento atípico “é caracterizado pela apresentação de uma estrutura biológica deficiente em conjunto com um ambiente que não estimula, ou até mesmo é deficiente no desenvolvimento das capacidades físicas e cognitivas do indivíduo” (LOPES, 2016, p. 24). Esta mesma autora complementa ainda que no contexto escolar “o desenvolvimento atípico também pode estar relacionado com transtornos psicológicos, comportamentos difíceis”. Ainda nessa perspectiva de desenvolvimento e considerando que os organismos se desenvolvem o tempo todo num processo de aprendizagem, de acordo com a teoria da compensação, desenvolvida por Vygostky (2011), uma criança com desenvolvimento atípico pode atingir o mesmo nível de desenvolvimento de uma criança normal, só que de maneira diferente, por outros meios. Logo, a teoria da compensação evidencia que “o desenvolvimento cultural é a principal esfera em que é possível a deficiência.” (SOUZA, 2017, p. 7).

Mediante os fatos, pesquisas científicas têm sido levantadas para caracterizar métodos eficazes que garantam a aprendizagem independente do quadro em que a criança esteja apresentando. Dessa maneira, Segundo Silva (2014) o termo aprendizado significa o ato do aprendiz aprender, e vem de uma língua latina entendia como “apprenhendere”, que significa apanhar algo, no sentido de adquirir conhecimento. Com isso, a própria palavra aprendizado, em suas origens, sugere que o indivíduo se dirige ativamente ao aprender, e, as pessoas estão predestinadas a isto em um processo de interação com o contexto e por mediação social, a construir uma visão de mundo e intervir nele. Pois desde nosso nascimento interagimos com o mundo a nossa volta e atribuímos significados aos estímulos que se relacionam com a gente o tempo todo, seja no lar familiar por meio de nossos pais e pessoas mais próximas, seja no meio social, quando começamos a influenciar nas relações e na sociedade de uma forma mais direta. Aprendemos durante todo o momento. O simples ato de sugar o peito materno para se alimentar pode ser considerando um ato de aprendizagem. Skinner (1953), psicólogo russo afirma que o processo de aprendizagem se dá de duas formas diferentes, por condicionamento clássico ou operante. No condicionamento clássico a aprendizagem acontece por meio de associações que o sujeito faz entre um estímulo e uma resposta do organismo, por exemplo a presença da mãe funciona como estímulo para o comportamento de buscar o peito. No condicionamento operante é necessário que o sujeito se comporte para ter uma consequência no ambiente, por exemplo quando estamos diante uma porta, aprendemos que girar a fechadura funciona como estímulo para adentrar no lar. Este teórico da psicologia diz ainda que a maioria de nossas aprendizagens se dá por condicionamento operante. Qual método você profissional tem utilizado? Quando a criança está num contexto de estimulação seja clínico, escolar ou familiar, a aquisição de comportamento esperados, tendem a aumentar a frequência, tendo em vista o manejo contingencial do ambiente da criança.

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Dessa maneira é válido ressaltar que aumentar a frequência de um comportamento será possível quando o ambiente proporcionar métodos de ensino individualizado de acordo com a criança que está sendo ensinada. Em psicologia comportamental utilizamos de técnicas diversas a fim de alcançarmos o comportamento desejado e em suma, o ensino de habilidades para crianças com autismo aliada a uma aquisição por meio de estímulos reforçadores é cientificamente o método mais eficaz de ensino.

Atualmente, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), tem ganhado espaço no tratamento de pessoas com autismo, em vista de sua eficácia comprovada nos estudos levantados seja em ambiente individualizado ou em grupo e a utilização de estímulos reforçadores (arbitrários, naturais, etc.) é seu maior princípio filosófico e científico. Não podemos afirmar que um sujeito perdeu sua capacidade de aprender, devemos sim buscar qual a forma mais adequada de proporcionar o desenvolvimento e aprendizagem desta pessoa. O segredo está na metodologia utilizada neste processo que chamamos de funcional. Seja em ambiente escolar, clínico, individualizado, grupo, onde houver pessoas se comportamento, a ABA pode ser utilizada.

Para saber mais:

GODOI, J. P. Comunicação alternativa (PECS): Ganhos em comunicação verbal, comportamentos sociais e diminuição de comportamentos problema. 2006. 58p. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. Disponível em: < https://grupogradual.com.br/wp-content/uploads/2015/02/COMUNICA%C3%87%C3%83O-ALTERNATIVA-PECS-GANHOS-EM-COMUNICA%C3%87%C3%83O-VERBAL-COMPORTAMENTOS-SOCIAIS-E-DIMINUI%C3%87%C3%83O-DE-COMPORTAMENTOS-PROBLEMA.pdf> acesso em 15 de março de 2019.

SILVA, Luzia. G. S. Educação Inclusiva: prática pedagógica para uma escola sem exclusões. 1 ed. – São Paulo: Paulinas, 2014.

SKINNER, B.F. (2003). Ciência e comportamento humano. Tradução organizada por J.C.Todorov & Azzi 11ª edição. São Paulo: Martins Fontes Editora. (trabalho original publicado em 1953).

SOUZA, B. K. S. S. Desenvolvimento atípico e inclusão: concepções de estudantes de ciências naturais. 2017. Faculdade UnB Planaltina Ciências naturais, Brasília. 28p. Disponível em: < http://bdm.unb.br/bitstream/10483/18192/1/2017_BrendaKevellynSouza_tcc.pdf> acesso em 10 de MARÇO de 2019.

SOUZA, D.A.; ALMEIDA, C. F. A importância da proximidade família e escola no desenvolvimento escolar da criança no ensino infantil, 2015. Disponível em: <http://www.unipacto.com.br/revista-multidisciplinar/arquivos_pdf_revista/revista2015_1/3.pdf> acesso em 06/08/2018.

 

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