Psicólogo Diego Vieira fala sobre transtorno de pânico vivido por Pe. Fábio de Melo

Em entrevista concedida ao Fantástico neste domingo (20), Padre Fábio de Melo falou sobre este problema psicológico que lhe atormenta há 2 anos, quando foi diagnosticado e passou a fazer uso de medicamentos. Conforme seu relato, há algumas semanas quando estava prestes a descer do avião para cumprir agenda normal de shows, sentiu os mesmos sintomas sentidos pela primeira vez há dois anos. O padre precisou tomar seus remédios para poder sair do avião. O psicólogo analista do comportamento Diego Vieira nos concedeu uma entrevista para explorar mais sobre este assunto que acomete 9% da população brasileira, segundo dados da ONU.

Veja na íntegra o posicionamento do profissional:

O transtorno de pânico se configura como um tipo de comportamento que pode ser enquadrado no que chamamos de comportamentos ansiosos. Em textos anteriores (Casos Clínicos: Ansiedade, Casos Clínicos: Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)),  fiz uma explanação dos diversos comportamentos ansiosos desde os mais simples aos mais complexos, como este. Vale ressaltar que os comportamentos ansiosos são naturais em nossa espécie, pois foram selecionados ao longo da evolução, devido a seu valor de sobrevivência para o organismo, ou seja o estado de ansiedade nos indica que estamos em perigo e isso faz com que nosso sistema nervoso autônomo dispare respostas de fuga ou luta, deixando o corpo em alerta. No entanto, a ansiedade passará a ser um problema primeiro quando sua intensidade for extremamente prejudicial de modo que o indivíduo não tem controle sobre ela; sua frequência tornar-se constante e em intervalos de tempo curto considerando o contexto do sujeito e desde que tais estados de ansiedade prejudiquem as atividades rotineiras do indivíduo. Knnap (2004) apud Freitas (2005, p. 26) afirma que “eventos de vida negativos, como perda ou doença séria de pessoa significativa, doença ou grande perigo para a própria pessoa, separações ou conflitos domésticos intensos aparecem em relatos de pacientes quando indagados sobre as condições precipitadoras do pânico”. Ou seja, é possível afirmar que o comportamento de ataque de pânico irá aparecer frente a uma condição ambiental aversiva para o sujeito. Estímulos aversivos funcionam como antecedentes para que o organismo emita respostas de ataque de pânico. O que chamamos de “respostas”, entende-se todo comportamento emitido pelo sujeito que tem relação com o estímulos do ambiente. Essas respostas podem ser cognitivas (pensamentos, emoções, regras, etc.), autonômicas (respostas fisiológicas como palpitações, sudorese, hiperventilação, etc.) ou comportamentais (ações do organismo em seu ambiente).

O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), classifica o transtorno de pânico com código F41.0 e elenca alguns comportamentos do organismo que podem auxiliar no diagnóstico do paciente, dos quais, no mínimo quatro devem estar presentes intensamente e causando extremo desconforto que em minutos alcança um pico bastante elevado.

  • Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
  • Tremores ou abalos.
  • Sensações de falta de ar ou sufocamento.
  • Sensações de asfixia.
  • Dor ou desconforto torácico.
  • Náusea ou desconforto abdominal.
  • Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
  • Calafrios ou ondas de calor.
  • Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento).
  • Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo).
  • Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
  • Medo de morrer.

Estes comportamentos, embora pareçam não ter relação com o contexto do sujeito, tendo em vista que aparecem sem causa aparente, estão intrinsecamente relacionados, pois todo comportamento do organismo seja ele público (aberto/externo) ou privado (fechado/interno) pode ser analisado considerando as variáveis do ambiente do indivíduo. Para um analista do comportamento, não existe causa interna de comportamentos. O próprio comportamento é emitido baseado em estímulos do ambiente, ou seja um comportamento não pode causar outro. O pássaro não canta porque está feliz, nem está feliz porque canta. O pássaro canta e está feliz porque algo aconteceu em seu ambiente (saciação de alimento, por exemplo). O que poderá ocorrer com bastante frequência será uma inter-relação entre comportamentos de modo que uma determinada resposta seja fortalecida. Funciona mais ou menos dessa forma:

A partir disso, o sujeito passará a ficar mais atento as sensações de seu corpo, de modo que conseguirá notar qualquer mínima alteração em seus batimentos cardíacos, mesmo que eles tenham aumentado naturalmente em resposta a alguma esforço físico; dessa forma frequentemente encontraremos pessoas que além de apresentar o transtorno de pânico, apresentará agorafobia, que significa o medo de locais públicos e abertos pois teme que poderá sofrer um ataque de pânico a qualquer momento e não terá meios para sair da situação. O tratamento deste transtorno se dá de forma personalizada analisando a história de aprendizagem social, reforçamento e punição do sujeito, bem como analisando as causas deste comportamento definindo frequência, intensidade e desde quando ele passou a ser recorrente. Tratamentos medicamentosos feito por psiquiatra, não substitui o tratamento psicoterápico feito por um psicólogo analista do comportamento (normalmente o mais indicado). As técnicas comportamentais tem como principal objetivo a dessensibilização, que é feita mediante exposição gradual do sujeito ensinando-o comportamentos incompatíveis aos sentidos em ataque de pânico, bem como técnicas de relaxamento e resolução de regras que o sujeito tem criado cognitivamente.

Diego Marcos vieira da Silva

Psicólogo comportamental (CRP15/4764), formado pela Universidade Federal de Alagoas, com formações em psicopatologia em análise do comportamento e técnicas de memória e oratória. Com capacitação para avaliação psicológica e experiência em casos de transtornos psicológicos tanto na clínica quanto em instituições de saúde mental.

 

REFERÊNCIAS:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.

FREITAS, Cláudia Marcia de,. Transtorno de pânico: uma análise comportamental. Brasília-DF, 2005. Disponível em: < http://www.repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/2968/2/20260964.pdf> Acesso em 20 de ago de 2017

SIDMAN, Murray. Coerção e suas implicações. (R. Azzi; Andery, M.A., trads) Campinas: Editorial Psy. (Originalmente publicado em 1989).

SILVA, D. R. S. da et al. Transtorno obsessivo–compulsivo (TOC): características, classificação, sintomas e tratamento. ConScientiae Saúde, São Paulo, v.6, v.2, p.351-359, 2007. Disponível em: < http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340133701cnsv6n2_3q32.pdf > acesso em 5 de julho de 2015.

SKINNER, B.F. (2003). Ciência e comportamento humano. Tradução organizada por J.C.Todorov & Azzi 11ª edição. São Paulo: Martins Fontes Editora. (trabalho original publicado em 1953).

6 comentários sobre “Psicólogo Diego Vieira fala sobre transtorno de pânico vivido por Pe. Fábio de Melo

  1. Parabéns Grande Diego!! Textos como esse nos fazem ter um outro olhar sobre essa temática que é tão relevante e que é uma realidade para muitas pessoas.
    Seus textos são excelentes e de fácil compreensão, eles me ajudam muito no meu cotidiano.
    Obrigada e estou esperando os próximos rsrsrs

  2. Excelente texto! É através de entrevistas como essa e de texto como este que percebemos o quanto as explicações médicas se voltam a sentimentos. Percebemos também o quanto a Análise do Comportamento se preocupa em realizar uma investigação aprofundada de variáveis ambientais que estejam provocando os excessos e os déficits comportamentais. Isso ficou muito claro nesse texto.

  3. O lado bom de uma pessoa pública relatar seu problema em rede nacional é que, por meio dele, dá-se a oportunidade de olhar para o assunto de forma séria e discuti-lo. Conferindo-lhe um caráter mais compreensivo diante das variáveis causadoras e menos preconceituoso diante do eminente “ataque de Pânico”. Aqui, muito bem esclarecida! Parabéns!

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