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1Comumente ouvimos em nossa comunidade verbal que fulano é “doido” ou cicrano tem “transtorno mental”, mas é muito pouco provável que as pessoas que utilizam essas nomenclaturas tenham debruçado sobre o tema de modo a entender o que é e como ajudar. Estas expressões, tais como outras como “lesado”, “distúrbio mental”, “louco”, “idiota”, etc..são usadas para referir-se a alguém que emite comportamentos não compatíveis com o que a cultura dita como “normal”. Foram nomenclaturas modificadas ao longo dos anos conforme o entendimento científico que se tinha. Na atualidade, chama-se de transtorno mental. Sua definição é inexistente. Há mais discordância do que concordância ao se definir os transtornos mentais, no entanto existe um manual para classificá-los conforme seus critérios diagnósticos.  

Os transtornos psicológicos têm sido alvo de muitas pesquisas no campo científico. Tais transtornos, também conhecidos como psicopatologias, são entendidos pela comunidade médica como algo interno ao sujeito, inerentes portanto, à mentalidade humana, sendo atribuída causas a alma, ao espirito, ao cérebro, ao destino, à genética. No entanto, a análise do comportamento, ciência que tem como base o behaviorismo radical de B.F.Skinner (1969) compreende que não existe psicopatologia, mas padrões comportamentais que passaram pelo mesmo processo de aprendizagem de qualquer outro comportamento. Então da mesma forma que contribuímos para indivíduos com padrões de comportamento “saudáveis”, podemos contribuir para padrões que trazem prejuízos ao sujeito, ou seja, “comportamento doentil”.

Nesse sentido, o entendimento que a análise do comportamento dispõe sobre transtornos mentais é que existe um repertório comportamental em excesso ou em déficit proveniente dos três níveis de seleção; a saber: a história da espécie (filogênese), a história de aprendizagem individual (ontogênese) e a cultura em que o indivíduo está inserido (sociogênese); havendo, assim, a necessidade de uma análise funcional para conhecimento dos eventos antecedentes e consequentes que estão relacionados diretamente com o comportamento do organismo.

A avaliação funcional é uma ferramenta interventiva que a análise do comportamento dispõe para investigar as variáveis mantenedoras do comportamento do indivíduo. Para exemplificar melhor, lembremos que ao presenciar uma variável ameaçadora, como um animal feroz, nós emitimos comportamento de fuga ou luta para, assim, nos livrarmos da situação estressora. Neste sentido, avaliando funcionalmente, as variáveis envolvidas são a) antecedente: animal feroz; b) resposta: fuga ou luta c) consequente: livramento de possível ataque.

O “comportamento doente”, considerado na visão tradicional como aquele que traz prejuízos para o indivíduo, sendo muitas vezes isolado do convívio social e mantido em instâncias que destina-se a estes, é visto, de acordo com a ótica comportamental, como uma maneira saudável do organismo se adaptar ao ambiente, compreendendo que o mesmo foi instalado e está sendo mantido pelo ambiente que o organismo está inserido como forma de sobrevivência. Para exemplificar melhor vejamos o exemplo a seguir: Laura tem 30 anos e foi diagnosticada como esquizofrênica desde os 22. As pessoas em sua volta fazem tudo que Laura pede, inclusive pagam suas contas, dão casa, comida e moradia e uma cuidadora. Tudo isso porque ela é “doente” e se não fizer o que ela pede, ela quebra os móveis em casa. Esta situação deixa clara que o que mantém a “doença” de Laura é um ambiente extremamente reforçador, onde ela se livra de responsabilidades e ainda tem tudo que pede em suas mãos sem desprender esforço algum. Há oito anos ela está neste ambiente e provavelmente está pouco interessada em “fazer tratamento” para não perder todos esses “ganhos”.

Desse modo, o comportamento que funciona é mais provável de ocorrer do que aquele que não funciona, visto que o primeiro traz benefícios ao individuo, reforça-o. Outro ponto importante, é que os problemas de comportamento são mais freqüentes quando há grande numero de fatores de risco (e. g., ambiente familiar coercitivo, disponibilização da atenção social para comportamentos indesejáveis ao contexto, ausência de reforço aos comportamentos que o ambiente deseje sua freqüência de ocorrência aumentada) para a pessoa em questão, e quando esses fatores encontram-se combinados e/ou acumulados.

Com isso, pode-se dizer que nossos ambientes de formação são responsáveis pelo aparecimento de comportamentos problema. Estes ambientes de formação incluem não apenas o físico e palpável, mas as interações interpessoais, pensamentos e sentimentos do indivíduo. Há pré disposição genética sim, é inegável. Mas para que o comportamento se desenvolva, é necessário um ambiente que favoreça. Como prevenção, busque está em ambientes saudáveis, aprenda a lidar com as dificuldades, com as frustrações, esteja em bons relacionamentos amorosos, mantenha boas relações com familiares e amigos, pratique exercício, tenha uma vida produtiva e torne-se autor de sua história.

 

Diego Marcos Vieira da Silva

Graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas.

 

Referência:

 

SKINNER, B.F. (1979). O que é comportamento psicótico? Em T. Millon (Org.), Teorias da psicopatologia e personalidade, pp. 188-196. Intaramericana: Rio de Janeiro. (A obra de Skinner foi publicada originalmente em 1956)

Skinner, B.F. (2003). Ciência e comportamento humano. Tradução organizada por J.C.Todorov & Azzi 11ª edição. São Paulo: Martins Fontes Editora. (trabalho original publicado em 1953)

 

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