Felipão tranquilo: o time está pronto

Luiz Felipe ScolariEssa coisa de comandar uma seleção anfitriã num grande torneio não é exatamente novidade para Luiz Felipe Scolari. Nem a de ser campeão do mundo.

Só mesmo para quem já esteve à frente de Portugal na UEFA Euro 2004 e comandou o Brasil no último dos cinco títulos mundiais – na Copa do Mundo da FIFA Coreia do Sul/Japão 2002 -, o desafio de segurar toda a expectativa e a pressão que haverá sobre a Seleção na Copa 2014 é um pouco menos árduo.

Diante do marco dos cem dias para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, nos juntamos com Felipão numa conversa exclusiva, para saber como um dos protagonistas do evento se sente à beira do pontapé inicial. Veja só:

Faltam apenas noventa e oito dias para o início da Copa do Mundo. O Brasil está preparado para conquistar o título?
O Brasil, dentro do planejamento que fizemos pra Copa do Mundo, está pronto. Tudo organizado, tudo definido, tudo bem planejado. É só seguir isso que a gente organizou que provavelmente vai dar tudo certo.

Qualquer resultado diferente de uma vitória na final seria visto pelo público brasileiro como um fracasso. Você também pensa dessa forma?
Não é a minha visão, penso de maneira totalmente diferente. Já tenho algumas experiências, vivenciei algumas situações em que, mesmo não sendo campeão, vice ou terceiro lugar, dependendo da forma como as equipes se comportam, elas foram bem recebidas pelo torcedor. Naturalmente que, quando se entra numa competição mundial, com o status que tem o Brasil, ninguém espera algo a não ser o título mundial. Todo mundo espera o título e é o que a gente trabalha pra fazer, respeitando as outras equipes, que entram também com esta pretensão. Mas, dentro do Brasil, nós vamos tentar, com a nossa qualidade, conseguir nosso objetivo. Se nós não conseguirmos é porque teve gente melhor que nós.

O fato de jogar em casa aumenta a pressão sobre o grupo?
A expectativa se torna maior porque é a segunda Copa no Brasil, e temos uma oportunidade que tivemos na primeira e não conseguimos. Mas temos também outros grandes oponentes que têm os mesmos objetivos.

Você já disputou uma grande competição internacional em casa com Portugal em 2004, quando acabou derrotado pela Grécia na final da Euro. Que ensinamentos tirou dessa derrota?
Isso auxilia, nos dá um pouco mais de visão de como trabalharmos uma final, de como um país, quando chega a uma final na sua casa, tem que organizar e trabalhar para chegar ao objetivo final. De como podemos usufruir jogarmos em casa. E quando a gente não consegue, o sofrimento é muito maior. Mas nos dá, sim, uma experiência para trabalharmos com os nossos atletas.

Qual a sua visão sobre as seleções do México, Camarões e Croácia, seus adversários na primeira fase?
A Croácia é um time que joga um futebol bem jogado, bem trabalhado. É um futebol muito parecido com o futebol sul-americano, que trabalha bem a bola. É uma equipe que não é adepta do futebol um pouco mais parecido com o futebol inglês de antigamente; eles são muito técnicos e jogam dentro daquele padrão. Já Camarões é uma equipe africana de boa qualidade técnica, e que muitas vezes a gente espera uma coisa e acontece outra, ou a gente não espera nada e acontece. É uma incógnita. E o México é um dos nossos adversários tradicionais. Jogam um futebol bem jogado, de qualidade. Já tem tradição contra o Brasil e sempre é uma dificuldade.

O fato de essas equipes jogarem um futebol bem trabalhado é positivo para o Brasil?
É bom, porque nós gostamos de jogar assim. Quando enfrentamos outras seleções que também jogam futebol fica interessante para o Brasil. O Brasil não sabe jogar muitas vezes contra seleções que têm outro tipo de procedimento, que jogam com um pouquinho mais de catimba. É melhor até jogar contra seleções que sejam boas ou até melhores que o Brasil em determinadas oportunidades, porque nesse tipo de jogo nós temos condições de superá-los.

Foi este o caso do jogo contra a Espanha, na final da Copa das Confederações?
O Brasil sabe jogar contra essas equipes, se porta muito bem, principalmente contra esse tipo de estilo. É um jogo em que nós temos nossos ânimos normais, sem exaltação, sem problemas psicológicos e que sabemos jogar. Respeitamos e as outras equipes que trabalham bem a bola, mas as outras equipes desse mesmo nível também deixam jogar. É uma situação em que nós gostamos de jogar.

O sucesso da Espanha e do Barcelona nos últimos anos obrigou o mundo a estudar esse estilo de jogo de troca de passes?
Acho que as características daqueles jogadores que faziam parte daquele clube foram se juntando e, claro, todo mundo analisa o porquê de uma coisa ou outra. Mas esse tipo de futebol, pela característica dos jogadores, tem determinada época que vai se adaptar melhor. Nós tivemos o futebol italiano em décadas anteriores, que era um futebol que a gente tinha que observar muito bem, o futebol alemão… Já houve diferentes características que cada um de nós técnicos teve que observar, aprender e tirar algum proveito.

Você também já trabalhou nos países árabes e conhece o futebol mundial como ninguém. Acredita que alguma seleção asiática ou africana pode ser a surpresa deste Mundial?
Surpresa, sim. Serem campeãs é muito difícil, porque as seleções tradicionais hoje ainda têm muito mais possibilidades. Já têm tradição, jogam de uma forma mais compacta, são seleções que têm um currículo maior, têm mais jogadores à disposição. Geralmente, nesse tipo de competição, essas equipes têm maiores possibilidades. Pode haver alguma seleção europeia ou da América do Sul que a gente diz “olha, pode ser, essas têm chance”. Mas eu não acredito que uma seleção da África ou Ásia consiga vencer um campeonato mundial nesse momento.

Você treina justamente uma dessas seleções de tradição. Como você a utiliza para motivar seus jogadores?
A gente utiliza mostrando aquilo que já foi feito e pode ser feito e dentro das condições de cada um, do que eles podem almejar em seu currículo e no currículo de sua seleção. Mostramos de que forma foram conseguidos os títulos pelo Brasil. Com dedicação, com espírito, com qualidade. E a gente vai dando a confiança que eles necessitam para por em pratica seu futebol, que é excelente.

Em 2002, quando o Brasil conquistou a Copa do Mundo, você contava com jogadores excepcionais como Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. Esta nova geração é tão forte quanto a anterior?
A gente não pode comparar só talento, porque aquela seleção de 2002 tinha mais experiência. Esse grupo de hoje tem jovialidade, tem dinâmica. E, quem sabe, naquela oportunidade experiência era importante, mas neste momento, a dinâmica e a jovialidade podem ser mais importantes que o talento puro.

Com o torneio cada vez mais próximo, fala-se muito dos problemas de organização, dos atrasos nos estádios e dos entreveros políticos. Isso te afeta em algum nível?
Não. Eu faço com que não influa, porque isso não nos diz respeito. Isso nos diz respeito como pessoas, como cidadãos, como brasileiros. Mas nós temos que saber diferenciar, saber passar isso aos nossos jogadores para que eles diferenciem e se concentrem naquilo que eles têm que fazer, que é em campo. Cada um tem a sua opinião, mas a concentração, a observação total e o foco têm que ser no trabalho que eles são chamados a fazer. E eles têm reagido de uma forma espetacular sobre essas situações. Nós falamos abertamente, deixamos à disposição nas suas redes sociais para que eles se manifestem, mas nós temos as nossas normas e seguimos aquilo.

Você tinha dois anos de idade quando a Copa do Mundo foi realizada no Brasil pela primeira vez. Agora, figura entre os principais nomes desta nova edição. A sensação deve ser maravilhosa, não é?
Como eu tinha dois anos não tenho lembranças daquela final. Mas discordo totalmente de muitas pessoas. Aquele foi o ano em que o Brasil chegou pela primeira vez à final de competição mundial. Foi o ano que marca nossa derrota, mas marca também o início de um processo que foi maravilhoso, que nos levou a ser cinco vezes campeões. Então, eu não vejo apenas como uma derrota numa final. Foi o caminho aberto por aqueles jogadores, para que depois nós seguíssemos e conseguíssemos ser cinco vezes campeões. Essa é a visão que estou passando, a visão que os jogadores têm daqueles que os antecederam na Copa de 1950 e que eles querem reviver chegando a uma final.

Como técnico da seleção anfitriã, que recado você daria aos torcedores de outros países que virão ao Brasil?
O recado que eu posso passar aos torcedores é que eles podem vir tranquilamente, serão bem recebidos. O Brasil é um país que recebe todos de forma carinhosa, sabe tratar principalmente os estrangeiros e, creio eu, depois da Copa do Mundo todos terão o Brasil  como um país pra visitar muitas vezes. Nós somos um povo que gosta de receber as pessoas, que trata bem os visitantes. Eles podem ter certeza de que poderão desfrutar de muitas situações excelentes em qualquer lugar do Brasil com a nossa diversidade.

O que você estará fazendo às 16 horas do próximo dia 13 de julho?
Bem, sei que 13 de julho é a final. Então, se começa às 16h, eu estou lá me preparando em campo. Já cantei o hino nacional com alegria, fervor e dinamismo, assim como espero que meus jogadores e o público também. E esperando que nós todos no Brasil possamos jogar uma final e ganhar.

 

Fonte: Site Fifa

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