Como nasceu a Zara: a trajetória do garoto que viu a mãe ser humilhada e mudou o mundo da moda
Amancio Ortega tinha apenas 12 anos quando viu a mãe, dona Josefa, ser humilhada numa pequena mercearia da Espanha. O comerciante, sem rodeios, disse que não poderia mais vender fiado. A cena ficou gravada no garoto. “Aquilo me deixou arrasado”, lembraria ele décadas depois. Ali, ainda criança, fez uma promessa silenciosa: nunca mais permitiria que sua família passasse por aquilo.
Filho de um ferroviário e de uma dona de casa, cresceu sem luxo e começou a trabalhar cedo. Aos 14 anos, largou a escola para ser entregador de camisas em A Coruña. Foi ali, entre tecidos e pacotes, que aprendeu o valor da agilidade, da observação e da persistência.
O tempo passou, e o jovem que começou no balcão decidiu criar o próprio negócio. Em 1963, com a ajuda dos irmãos e da futura esposa, Rosalía Mera, nasceu a GOA, uma pequena confecção de roupões que funcionava praticamente do zero. Mas a ambição era maior que o espaço que tinham.
Em 1975, daria o passo que mudaria sua vida — e o mercado da moda: abriu a primeira Zara. A ideia parecia ousada demais para a época. Enquanto o setor levava meses para pôr tendências nas vitrines, Amancio queria fazer isso em semanas. Controlou tudo: criação, produção, distribuição e venda. Tirou intermediários, acelerou processos e apostou no que ninguém via ainda: a velocidade como motor da moda.
De A Coruña, a Zara correu a Espanha, depois atravessou fronteiras, ganhou Europa, Estados Unidos, Ásia. Em 1985, ele criou a Inditex, que hoje reúne gigantes como Zara, Bershka, Stradivarius e Pull&Bear. O império cresceu silenciosamente, do jeito que ele sempre preferiu. Amancio nunca deu entrevistas, nunca fez aparições em inaugurações e autorizou apenas uma foto oficial. Preferiu observar o mundo à distância, da mesma cidade onde começou como entregador.
Hoje, sua fortuna ultrapassa os US$ 120 bilhões. A Inditex fatura dezenas de bilhões de euros por ano e está presente em mais de 200 mercados. Mas para quem o conhece, nada disso apaga o menino que voltou da mercearia, indignado, e decidiu mudar o próprio destino.
Do garoto que viu a mãe ser negada ao fiado ao homem que veste meio mundo, Amancio Ortega construiu mais que uma empresa. Ele reescreveu sua história, e provou que algumas promessas feitas na infância têm força para mover impérios.



