“Tenho motivos para odiar crianças”: o polêmico testemunho de um escritora francesa

1A autora francesa Corinne Maier, que tem dois filhos, anuncia para quem quiser ouvir sua opinião de que, no mundo atual, os adultos estão tão obsessivos por seus filhos e tão exaustos por ter de cuidar deles que não têm energia para mais nada.

Confira o depoimento dado à BBC por Corinne, que em 2009 escreveu o livro No Kids: 40 Good Reasons Not to Have Children (em tradução livre, Sem Crianças: 40 Boas Razões para Não se Ter Filhos).
“É assustador pensarmos em quantos somos! O planeta Terra tem uma população estimada de 7,5 bilhões de pessoas. Em 2100, seremos 11 bilhões. Como o planeta vai alimentar todo mundo?

Vivemos em uma sociedade obsessiva por crianças. Um filho é considerado uma garantia de felicidade, um desenvolvimento pessoal e até um status social.

Indivíduos que não têm filhos são descritos como egoístas e cidadãos de segunda classe. Muitos deles se sentem pressionados a se justificar: ‘Eu não posso ter filhos, mas eu adoro crianças.’ Quando ouço isso, logo faço um comentário para inflamar a conversa. Algo como: ‘Eu tenho filhos, mas tenho razões para odiar crianças’.

Não que eu esteja na posição de defender a queda da natalidade. Visto que tenho dois filhos, não posso dizer aos outros: ‘faça como eu’. Mesmo assim, acho hipócrita esconder-me por trás de uma fumaça de idealismo (‘Não há nada mais bonito do que o sorriso de uma criança’) para justificar minhas opções questionáveis para a vida. Sou totalmente contra essa lavagem cerebral.

Já é hora de pararmos de vender a ideia de que bebês são sinônimo de felicidade. Chega dessa grande ‘ilusão sobre os bebês’!

Hoje em dia, é impossível expressar sua experiência com a maternidade sem dizer:  ‘Eu sou uma mãe (ou um pai) feliz e meus filhos são minha alegria’.

Sentir-se realizada com a maternidade (ou a paternidade) agora é compulsório. Na minha experiência, a realidade é bem diferente: criar um filho é 1% de felicidade e 99% de preocupação.

Ser mãe ou pai se tornou um trabalho que consome muito tempo. Muitos pais vêm se envolvendo de maneira excessiva na educação de seus filhos e se tornando “hiperpais”, presentes em todas as frentes – garantindo um café da manhã balanceado, levando a atividades extracurriculares, ajudando com a lição de casa…

Eu mesma hoje sou perfeitamente ciente de como estava envolvida – envolvida demais – e como me tornei o estereótipo da “mãe judia” (superprotetora, intromissiva e controladora). E isso produz crianças hipercontroladas e hiperobservadas. Tanto que eu penso em como eles conseguem, de fato, virar adultos.

Por que tanta pressão? A resposta, claro, é fornecer um número ainda maior de miniconsumidores que não vão se cansar nunca do capitalismo, que precisa vender sempre mais. É em nome das crianças que os pais compram carros, máquinas de lavar, casas e gadgets.

Crianças custam uma fortuna. Na Espanha, por exemplo, as crianças custam entre 98 mil euros e 300 mil euros cada, segundo uma organização de consumidores.

Criar meus filhos não apenas me deixou exausta, mas também me levou à falência. Em breve, minha filha vai terminar seus estudos. Vou dar uma festa. Finalmente não ter mais que bancá-la. Que alívio!

Por que sempre se diz que as crianças são o futuro? Precisamente porque não temos certeza sobre um futuro. Nossa paixão por crianças está ligada à nossa crescente preocupação com o futuro da humanidade. Com recursos naturais cada vez mais poluídos, em que mundo devastado vamos viver amanhã? E pensar que nós desistimos de tentar mudar isso!

Crianças, bem-vindas e boa sorte na entrada nesse mundo podre que seus pais, que te amam muitíssimo, te deixaram. Eles passaram tanto tempo cuidando de vocês que não tiveram tempo de transformar o mundo. Eles desistiram, penduraram as chuteiras. ‘A criança é o que há de mais importante….’

Vocês vão nos perdoar, né?”

 

Fonte: BBC

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