Sócio da boate Kiss diz que errou ao confiar em órgãos públicos

O sócio e principal administrador da boate Kiss, que pegou fogo em janeiro matando 242 pessoas em Santa Maria (RS), disse que “tem responsabilidades” sobre o caso e que errou ao “confiar” em órgãos públicos que haviam inspecionado o local.

Elissandro Spohr, 30, deu as declarações em entrevista ao jornal “Zero Hora”. Após ficar quatro meses preso no início do ano, ele é réu em um processo em que é acusado –com outras três pessoas– de homicídios dolosos qualificados e tentativas de homicídio.

“Tenho responsabilidades, quero saber quais são. Confiei nos órgãos públicos. Quero deixar o recado para donos de casas noturnas, empresários: não confiem nos órgãos públicos, pois eles não sabem o que estão fazendo, não sabem o que cobrar. Eu confiei e hoje estou aqui. Poderia ter acontecido com qualquer boate”, disse ao jornal gaúcho.

O incêndio começou quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que fazia um show na casa, acendeu um sinalizador. As chamas atingiram no teto uma espuma que era usada como revestimento acústico e que acabou liberando uma fumaça tóxica.

O sócio, conhecido como Kiko, afirmou na entrevista que um engenheiro sugeriu a colocação da espuma. Spohr disse que pesquisou na internet variedades do produto e que mandou o cunhado ir a uma loja de colchões comprá-lo. “Foi instalado por funcionários, paguei um extra”, disse.

O proprietário da casa noturna afirmou não acreditar que somente a espuma tenha sido a principal causa das mortes.

Ele também fez várias críticas à atuação do Ministério Público no caso e afirmou que, como “proprietário”, não fecharia a casa por conta própria. “Fazíamos petição ao promotor, e ele deixava a gente trabalhando e vendo o que precisava.”

O sócio também citou na entrevista que Bombeiros e prefeitura vistoriaram a casa noturna. Antes da tragédia, um promotor de Santa Maria firmou um termo de ajustamento de conduta com a direção da boate devido a reclamações de barulho feitas por vizinhos.

Spohr disse que considerava a casa noturna segura e que não frequentaria o local se soubesse que havia algo errado.

Também afirmou que nunca soube a capacidade da boate e que controlava a lotação do local com base “em conforto” e nas condições de “circulação” interna.

Ele mora atualmente em Porto Alegre e, disse, não sai de casa. “Fui preso porque fizeram de mim um irresponsável, um monstro. Tinham que dar uma resposta para mais de 200 pessoas mortas.

Fonte: Folha de São Paulo

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