Palmeira dos meus sonhos…

Por Elizabeth Carvalho

Cine Palácio. Reprodução

Aqui, não obedeço uma ordem cronológica, vez que era muito criança e não recordo hoje, das datas, proprietários ou locais precisos. Fica então, como um sonho.

Cheguei em Palmeira dos Índios, com quatro anos de idade. Deixei para trás, minha mãe e Delmiro Gouveia. Passei a ser criada, por meus irmãos mais velhos. A saudade de minha mãe era constante e doía agudamente no peito.

Nessa época, morava na mercearia de Mariquinha, entre a Prefeitura e o Cine Ideal. Ali, mergulhei no mundo encantado do Cinema. Para tomar conta do namoro de Simone e Veloso, tinha passagem livre, dada por Dona Dasneves, toda noite ou nas matinês.

Evidente, que pouco me interessa o namoro da filha dos proprietários do Cine Ideal. O meu interesse todo voltado para os filmes, que no início, ainda não sabia ler as legendas, mas entendia a história.

Ainda alcancei o Cine Palmeirense, que acabou logo. Depois passou a ser no local, a Sorveteria DK1, em estilo moderno, que chamavam de “funcional”.

Mesas e cadeiras, com pés palitos, influência da arquitetura de Brasília. Ali, era o ponto de encontro de todos, no final da tarde, ou depois das sessões de Cinema. No mesmo local, passou a ser a Loja Gecunha.

Havia também a Sorveteria Caetano, que teve vida mais longa. E seu Caetano, o proprietário, era a gentileza em pessoa, assim como seus filhos.

Ao torno da Praça da Independência, tinha todo um comércio, que adorava visitar as lojas por achar bonito o que havia no interior de cada uma.

A Loja São Paulo, Casas Ewancy, Sapataria de Dona Diorene, Loja de seu Vitorino, As Brasileiras, A Casa de Apolônio Torres, onde ao lado ficava o carrinho de Castanha, onde se encontravam os melhores amendoins e castanhas, com açúcar ou apenas torrados. Havia a Loja Princesa do Agreste, (Jota Duarte), a Loja de Manga Rosa, as Lojas Paulistas, o Armazém de José Soares, a Padaria do pai de Cacá, Casa de Saúde do Dr. Remi, A Farmácia Ferreira. Essas últimas, já na rua Fernandes Lima, onde também tinha a Loja de Epaminondas, Cartório de Valdemar Lima, Barbearia de Adão.

E por um tempo teve a Sorveteria do Nabuco, o Consultório de Dr. Hélio, a residência de Itinho Malta e Bel Sampaio, a residência de Otávio Barbosa, alguns prédios, que não lembro e no final, o prédio da Maçonaria. Que hoje é a OAB e espero que não derrubem.

Algum tempo depois, minha irmã mudou a mercearia, para a Fernandes Lima, onde era a padaria do pai de Cacá. Nesse tempo, já havia o majestoso Cine Palácio. Praticamente, morei nesse cinema. Fugia dos trabalhos na mercearia e ia ajudar seu Né, a rodar os rolos de filmes, que vinham pelo trem. Onde havia defeito no filme, era cortado e emendado. Eu ali com minha caixa, onde guardava os pedaços de fitas.

Lembro, que fiquei espantada, com a quantidade de latas de rolos de fitas, do filme A Árvore da Vida, com Elizabeth Taylor e Montgomery Cliff. Eram 28 latas! No tempo dos 10 Mandamentos e Ben Hur, já estava proibida de deixar a mercearia, para ir passar a tarde ajudando seu Né.

Tivemos o Cine São Luiz, que como os outros, foi fechado.

Nessa fase, havia a Fernandes Costa e a Casa dos Rádios de Brivaldo Medeiros.

A Praça da Independência, era linda! Com seus fícus, podados em desenhos geométricos, com um banco, debaixo de cada árvore, o coreto, onde ficavam os engraxates, e em cima, aconteciam os comícios, onde assisti, figuras históricas, como Jânio Quadro, General Lott, Ademar de Barros, Arnon de Mello, Silvestre Péricles, Rui Palmeira, Afrânio Lages, Teotônio Vilella, todos os candidatos à Prefeito e Vereadores de Palmeira.

No mesmo coreto, fizeram shows, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Nelson Gonçalves e muitos outros.

Na Praça da Independência, tinha o ponto de carros de aluguéis, onde os mais bonitos, eram os de Olavo Penteado.

Quem pode esquecer as festas natalinas, com seus parques de brinquedos, os corsos, a maratona carnavalesca?

Mas o coreto veio abaixo, no silêncio cúmplice dos moradores de Palmeira. E assim, o mesmo aconteceu, com a Casa de Saúde de Dr. Gastão, Praça das Casuarinas, Coreto da Praça do Açude, Educandário Sete de Setembro, O Montepio dos Artistas, onde foi a Escola Sagrada Família de Dona Luíza Mota, Sobrado dos Mendes, alguns casarões da rua Pinto de Barros, a casa de Albérico Furtado, atrás do armazém de Noé.

O Aeroclube, de carnavais e bailes famosos, que de forma misteriosa, passou para mãos de particulares, existe um processo, que precisa acordar e andar. Não sei como, um Cartório conseguiu fazer esse tipo de Escritura. Mas espero que o Juiz e algum promotor de justiça, desvendem essa ofensa à sociedade palmeirense.

Aos cincos anos, passei a estudar com Maydée Brandão. Saía mais cedo de casa, para ver um pouco, o trabalho de Zé Marques e na oficina de Paulinho. Outros dias, seguia para a casa de Maydée pela rua da Apalca, para esperar pelo carinho de Dona Delvira, que sempre me fazia mimos e amenizava a saudade de minha mãe.

Não posso esquecer das figuras folclóricas da Palmeira, de minha infância e adolescência, como Maria Topada, Catrevaje, Balaio de Pitú, Beleza, etc.

Palmeira dos Índios de hoje, é um sonho, que terminou. Uma cidade pobre, vazia, sem cores e odores, plastificada com seu negro asfalto e poucas árvores.

 

Acabou.

 

6 comentários sobre “Palmeira dos meus sonhos…

  1. Um retrato verdadeiro na vida na nossa Palmeira. Era bem assim! Vivemos tudo isso. Cada frase deste texto é uma viagem no tempo. Parabens amiga! !!!

  2. Sai de Palmeira há muitos anos e fiquei triste quando soube que tinham derrubado as árvores da praça da cacuarina,pois é lá que me escondia entre as árvores e com o olhar de criança achava a praça imensa.
    Nunca mais voltei,mais achei tão triste a sua dissertação do que restou de Palmeira.

  3. Infelizmente, ACABOU.,é a palavra.Cidade decadente.Com entraves, mais que burocráticos:Eticos!Não creio na ressurreição de Palmeira. Acho que pode ser “melhoradinha”. Onde já se viu,o passado ,ser mais festejado que o Presente?Cadê você, Grafiliano Ramos?Reconhecido internacionalmente; mas esquecido na cidade que se privilegia de sua pessoa.#deplorável #

  4. Belíssimo texto, que para nós leitores trouxe todas as cores, os cheiros e as emoções que Palmeira foi e, que um dia espero que volte a ser!!! Parabéns Desenbargadora!

  5. Parabéns Elizabeth Carvalho,pela crônica linda e muito bem lembrada por você das coisas de nossa amada Palmeira Dos Índios.Você tem razão quanto a Palmeira plastificada com asfalto,mas sem árvores!Outro dia fiz uma sugestão ao prefeito e câmara municipal,que tal de termos em nossa cidade um parque só com “palmeiras”?Eu ainda acredito que vejo e tenho esperança de ver Palmeira Dos Índios com vida!Tenho notado que tanto o prefeito Julio Cézar quanto o vice prefeito Márcio Henrique,(seu sobrinho) os mesmos têm demonstrando muito boa vontade,por Palmeira.Mais sinto que falta entusiasmo da população,falta bairrismo por Palmeira.Muito bem lembrado:Maria Topada,Chuva,Catrevaje, Negão da Praça,Maria Bispo e tantas figuras que jamais serão esquecidas por quem vivem os anos dourados de Palmeira Dos Índios.Hoje as coisas parecem mais maquiadas!Feliz aniversário de 128 anos de Palmeira Dos Índios.

  6. Parabéns, belas palavras… espero que um dia Palmeira volte a ser uma cidade bonita e alegre como foi comentada por sua lembranças e de outras pessoas que converso….

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